quinta-feira, 29 de dezembro de 2011




A todos os meus familiares e amigos, desejo um FELIZ ANO NOVO...365 dias de FELICIDADE...52 semanas de SAÙDE e PROSPERIDADE... 12 meses de AMOR e CARINHO...8760 horas de PAZ e HARMONIA...Que no novo ano tenham mais que 2012 motivos para sorrir... BOM ANO

A PEQUENA ALMA E O SOL

Era uma vez, em tempo nenhum, uma Pequena Alma que disse... a Deus:
- Eu sei quem sou!

E Deus disse:
- Que bom! Quem és tu?

E a Pequena Alma gritou:
- Eu sou Luz!

E Deus sorriu. – É isso mesmo! – exclamou Deus. – Tu és Luz!

A Pequena Alma ficou muito contente, porque tinha descoberto aquilo que todas as almas do Reino deveriam descobrir. – Uauu, isto é mesmo bom! – disse a Pequena Alma. Mas, passado pouco tempo, saber quem era já não lhe chegava. A pequena Alma sentia-se agitada por dentro, e agora queria ser quem era. Então foi ter com Deus ( o que não é má idéia para qualquer alma que queira ser Quem Realmente É ) e disse:
- Olá Deus! Agora que sei Quem Sou, posso sê-lo?

E Deus disse:
- Quer dizer que queres ser Quem já És?

- Bem, uma coisa é saber Quem Sou, e outra coisa é sê-lo mesmo. Quero sentir como é ser a Luz! – respondeu a pequena Alma.

- Mas tu já és Luz – repetiu Deus, sorrindo outra vez.

- Sim, mas quero senti-lo! – gritou a Pequena Alma.

- Bem, acho que já era de esperar. Tu sempre foste aventureira – disse Deus com uma risada. Depois a sua expressão mudou. – Há só uma coisa…

- O quê? – perguntou a Pequena Alma.

- Bem, não há nada para além da Luz. Porque eu não criei nada para além daquilo que tu és; por isso, não vai ser fácil experimentares-te como Quem És, porque não há nada que tu não sejas.

- Hã? – disse a Pequena Alma, que já estava um pouco confusa.

- Pensa assim: tu és como uma vela ao Sol. Estás lá sem dúvida. Tu e mais milhões, ziliões de outras velas que constituem o Sol. E o Sol não seria o Sol sem vocês. ‘Não seria um sol sem uma das suas velas… e isso não seria de todo o Sol, pois não brilharia tanto. E no entanto, como podes conhecer-te como a Luz quando estás no meio da Luz – eis a questão’.

- Bem, tu és Deus. Pensa em alguma coisa! – disse a Pequena Alma mais animada. Deus sorriu novamente.

- Já pensei. Já que não podes ver-te como a Luz quando estás na Luz, vamos rodear-te de escuridão – disse Deus.

- O que é a escuridão? perguntou a Pequena Alma.

- É aquilo que tu não és – replicou Deus.

- Eu vou ter medo do escuro? – choramingou a Pequena Alma.

- Só se o escolheres. Na verdade não há nada de que devas ter medo, a não ser que assim o decidas. Porque estamos a inventar tudo. Estamos a fingir.

- Ah! – disse a Pequena Alma, sentindo-se logo melhor.

Depois Deus explicou que, para se experimentar o que quer que seja, tem de aparecer exactamente o oposto.

- É uma grande dádiva, porque sem ela não poderíamos saber como nada é – disse Deus – Não poderíamos conhecer o Quente sem o Frio, o Alto sem o Baixo, o Rápido sem o Lento. Não poderíamos conhecer a Esquerda sem a Direita, o Aqui sem o Ali, o Agora sem o Depois. E por isso, – continuou Deus – quando estiveres rodeada de escuridão, não levantes o punho nem a voz para amaldiçoar a escuridão. ‘Sê antes uma Luz na escuridão, e não fiques furiosa com ela. Então saberás Quem Realmente És, e os outros também o saberão. Deixa que a tua Luz brilhe tanto que todos saibam como és especial!’

- Então posso deixar que os outros vejam que sou especial? – perguntou a Pequena Alma.

- Claro! – Deus riu-se. – Claro que podes! Mas lembra-te de que ‘especial’ não quer dizer ‘melhor’! Todos são especiais, cada qual à sua maneira! Só que muitos esqueceram-se disso. Esses apenas vão ver que podem ser especiais quando tu vires que podes ser especial!

- Uau – disse a Pequena Alma, dançando e saltando e rindo e pulando. – Posso ser tão especial quanto quiser!

- Sim, e podes começar agora mesmo – disse Deus, também dançando e saltando e rindo e pulando juntamente com a Alma

- Que parte de especial é que queres ser? – Que parte de especial? – repetiu a Pequena Alma. – Não estou a perceber.

- Bem, – explicou Deus – ser a Luz é ser especial, e ser especial tem muitas partes. É especial ser bondoso. É especial ser delicado. É especial ser criativo. É especial ser paciente. Conheces alguma outra maneira de ser especial?

A Pequena Alma ficou em silêncio por um momento. – Conheço imensas maneiras de ser especial! – exclamou a Pequena Alma – É especial ser prestável. É especial ser generoso. É especial ser simpático. É especial ser atencioso com os outros.

- Sim! – concordou Deus – E tu podes ser todas essas coisas, ou qualquer parte de especial que queiras ser, em qualquer momento. É isso que significa ser a Luz.

- Eu sei o que quero ser, eu sei o que quero ser! – proclamou a Pequena Alma com grande entusiasmo. – Quero ser a parte de especial chamada ‘perdão’. Não é ser especial alguém que perdoa?

- Ah, sim, isso é muito especial, assegurou Deus à Pequena Alma.

- Está bem. É isso que eu quero ser. Quero ser alguém que perdoa. Quero experimentar-me assim – disse a Pequena Alma.

- Bom, mas há uma coisa que devias saber – disse Deus.

A Pequena Alma já começava a ficar um bocadinho impaciente. Parecia haver sempre alguma complicação.

- O que é? – suspirou a Pequena Alma.

- Não há ninguém a quem perdoar.

- Ninguém? A Pequena Alma nem queria acreditar no que tinha ouvido.

- Ninguém! – repetiu Deus. Tudo o que Eu fiz é perfeito. Não há uma única alma em toda a Criação menos perfeita do que tu. Olha à tua volta. Foi então que a Pequena Alma reparou na multidão que se tinha aproximado. Outras almas tinham vindo de todos os lados – de todo o Reino – porque tinham ouvido dizer que a Pequena Alma estava a ter uma conversa extraordinária com Deus, e todas queriam ouvir o que eles estavam a dizer. Olhando para todas as outras almas ali reunidas, a Pequena Alma teve de concordar. Nenhuma parecia menos maravilhosa, ou menos perfeita do que ela. Eram de tal forma maravilhosas, e a Luz de cada uma brilhava tanto, que a Pequena Alma mal podia olhar para elas.

- Então, perdoar quem? – perguntou Deus.

- Bem, isto não vai ter piada nenhuma! – resmungou a Pequena Alma – Eu queria experimentar-me como Aquela que Perdoa. Queria saber como é ser essa parte de especial.

E a Pequena Alma aprendeu o que é sentir-se triste. Mas, nesse instante, uma Alma Amiga destacou-se da multidão e disse:

- Não te preocupes, Pequena Alma, eu vou ajudar-te – disse a Alma Amiga.

- Vais? – a Pequena Alma animou-se. – Mas o que é que tu podes fazer?

- Ora, posso dar-te alguém a quem perdoares!

- Podes?

- Claro! – disse a Alma Amiga alegremente. – Posso entrar na tua próxima vida física e fazer qualquer coisa para tu perdoares.

- Mas porquê? Porque é que farias isso? – perguntou a Pequena Alma. – Tu, que és um ser tão absolutamente perfeito! Tu, que vibras a uma velocidade tão rápida a ponto de criar uma Luz de tal forma brilhante que mal posso olhar para ti! O que é que te levaria a abrandar a tua vibração para uma velocidade tal que tornasse a tua Luz brilhante numa luz escura e baça? O que é que te levaria a ti, que danças sobre as estrelas e te moves pelo Reino à velocidade do pensamento, a entrar na minha vida e a tornares-te tão pesada a ponto de fazeres algo de mal?

- É simples – disse a Alma Amiga. – Faço-o porque te amo.

A Pequena Alma pareceu surpreendida com a resposta.

- Não fiques tão espantada – disse a Alma Amiga – tu fizeste o mesmo por mim. Não te lembras? Ah, nós já dançamos juntas, tu e eu, muitas vezes. Dançamos ao longo das eternidades e através de todas as épocas. Brincamos juntas através de todo o tempo e em muitos sítios. Só que tu não te lembras. Já fomos ambas o Todo. Fomos o Alto e o Baixo, a Esquerda e a Direita. Fomos o Aqui e o Ali, o Agora e o Depois. Fomos o Masculino e o Feminino, o Bom e o Mau – fomos ambas a vítima e o vilão. Encontra-nos muitas vezes, tu e eu; cada uma trazendo à outra a oportunidade exata e perfeita para Expressar e Experimentar Quem Realmente Somos. – E assim, – a Alma Amiga explicou mais um bocadinho – eu vou entrar na tua próxima vida física e ser a ‘má’ desta vez. Vou fazer alguma coisa terrível, e então tu podes experimentar-te como Aquela Que Perdoa.

- Mas o que é que vais fazer que seja assim tão terrível? – perguntou a Pequena Alma, um pouco nervosa.

- Oh, havemos de pensar nalguma coisa – respondeu a Alma Amiga, piscando o olho.

Então a Alma Amiga pareceu ficar séria, disse numa voz mais calma:

- Mas tens razão acerca de uma coisa, sabes? – Sobre o quê? – perguntou a Pequena Alma.

- Eu vou ter de abrandar a minha vibração e tornar-me muito pesada para fazer esta coisa não muito boa. Vou ter de fingir ser uma coisa muito diferente de mim. E por isso, só te peço um favor em troca.

- Oh, qualquer coisa, o que tu quiseres! – exclamou a Pequena Alma, e começou a dançar e a cantar: – Eu vou poder perdoar, eu vou poder perdoar!

Então a Pequena Alma viu que a Alma Amiga estava muito quieta.

- O que é? – perguntou a Pequena Alma. – O que é que eu posso fazer por ti? És um anjo por estares disposta a fazer isto por mim!

- Claro que esta Alma Amiga é um anjo! – interrompeu Deus, – são todas! Lembra-te sempre: Não te enviei senão anjos.

E então a Pequena Alma quis mais do que nunca satisfazer o pedido da Alma Amiga.

- O que é que posso fazer por ti? – perguntou novamente a Pequena Alma.

- No momento em que eu te atacar e atingir, – respondeu a Alma Amiga – no momento em que eu te fizer a pior coisa que possas imaginar, nesse preciso momento…

- Sim? – interrompeu a Pequena Alma

- Sim? A Alma Amiga ficou ainda mais quieta. – Lembra-te de Quem Realmente Sou.

- Oh, não me hei de esquecer! – gritou a Pequena Alma – Prometo! Lembrar-me-ei sempre de ti tal como te vejo aqui e agora.

- Que bom, – disse a Alma Amiga – porque, sabes, eu vou estar a fingir tanto, que eu própria me vou esquecer. E se tu não te lembrares de mim tal como eu sou realmente, eu posso também não me lembrar durante muito tempo. E se eu me esquecer de Quem Sou, tu podes esquecer-te de Quem És, e ficaremos as duas perdidas. Então, vamos precisar que venha outra alma para nos lembrar às duas Quem Somos.

- Não vamos, não! – prometeu outra vez a Pequena Alma. – Eu vou lembrar-me de ti! E vou agradecer-te por esta dádiva – a oportunidade que me dás de me experimentar como Quem Eu Sou.

E assim o acordo foi feito. E a Pequena Alma avançou para uma nova vida, entusiasmada por ser a Luz, que era muito especial, e entusiasmada por ser aquela parte especial a que se chama Perdão. E a Pequena Alma esperou ansiosamente pela oportunidade de se experimentar como Perdão, e por agradecer a qualquer outra alma que o tornasse possível. E, em todos os momentos dessa nova vida, sempre que uma nova alma aparecia em cena, quer essa nova alma trouxesse alegria ou tristeza – principalmente se trouxesse tristeza – a Pequena Alma pensava no que Deus lhe tinha dito.

- Lembra-te sempre, – Deus aqui tinha sorrido – não te enviei senão anjos!.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Natal é tempo da Familia! Favorece-se o encontro,a proximidade,a festa...mandam-se cartões mensagens...trocam-se prendas...as distãncias a que a vida nos vota durante o ano esbatem-se e, pelo menos por uns dias,reaviva-se o espirito de familia ou simplesmente de amizade.
Vale a pena conservar a magia do Natal! Em nome dos sentimentos mais nobres...amizade,familia,fraternidade,solidariedade! mesmo que a agitação da vida nos afaste daqueles que amamos,pelo menos no Natal reaviva-se a proximidade...é como um íman mágico que nos faz renascer da letargia a que a rotina nos obriga.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

6 anos se passaram...

Trazer de volta alguém do céu.... e passar um dia com essa pessoa, só mais uma vez, uma última vez, dar-lhe um último abraço, um último beijo e dizer adeus ou ouvir a sua voz novamente. Ter outra chance de dizer eu amo-te ! Em memória de alguém que amava e partiu...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

. Prova de Vida.

Prova de vida****
DN 2011-07-13 VASCO GRAÇA MOURA

"Terminal", dizia-me alguém há cerca de dois meses, "- Ela está em estado
terminal". Vi-a chegar com o marido a esse almoço de amigos, em que
participou discreta e aparentemente bem disposta, na sóbria gravidade da sua
postura algo emaciada, conversando sem aludir à doença, nem à inquietação ou
ao sofrimento por que passava. Era assim que aliava estoicismo e bom gosto.
Tinha uma maneira directa e inteligente de abordar as questões, encarando as
coisas de frente, dizendo o que pensava, apresentando os seus argumentos com
total clareza. Era uma mulher sem ambiguidades nem falhas de coragem e todos
os que a leram regularmente nesta página podem testemunhá-lo.
A sua vida familiar, a sua carreira profissional, o seu percurso político,
as qualidades de que deu provas, a sua energia, a sua capacidade de análise
e de decisão, os êxitos do seu trajecto, as suas posições no tocante à
sociedade e ao mundo, tudo isso já veio referido em comentários dos mais
diversos quadrantes.
A sua autobiografia sumária, num texto concluído e aqui publicado, no DN, no
próprio dia da sua morte, é um dos documentos humanos mais belos e pungentes
que me tem sido dado ler nos últimos tempos. Pensando bem, creio mesmo nunca
ter lido nada assim: alguém escreve na primeira pessoa do singular na
iminência da sua própria morte, quase em tempo real, com uma autenticidade,
uma serenidade e uma coragem excepcionais e desarmantes!
É com alguma melancolia que me ponho a pensar nessa relação, afinal
transparente, entre saber viver e saber morrer. Como quase toda a gente da
minha geração em Portugal, eu tive uma educação católica, embora não seja
crente desde a adolescência. Não sinto necessidades de nenhuma espécie de
incursão na esfera do transcendente, limitando-me a integrar-me nos chamados
valores da civilização cristã e a fruir o que deles possa ecoar nas grandes
criações do espírito humano, em especial na literatura e nas artes.
Apesar desse laicismo, impressionou-me profundamente a maneira como ela
transfigurou a sua educação católica numa experiência pessoal e muito
intensa de intimidade com o sagrado e esta em código de conduta moral e
norma de actuação prática na vida de todos os dias. Fiquei com a ideia de
que a crença cristã foi por ela interiorizada de tal maneira que tornou cada
acto da sua vida numa profissão de fé e num exercício de alegria íntima.
Isto é muito raro num país em que a tradição religiosa dominante, a
católica, se fica as mais das vezes por rituais esvaziados de sentido e pelo
mero papaguear do que se aprendeu na catequese.
Ficou-me também a impressão de que a palavra de Deus em que acreditava - e
por isso queria, sabia e conseguia vivê-la como alimento espiritual
quotidiano - lhe era, ao mesmo tempo, condição e explicitação constantes de
uma plena realização pessoal, na própria ascese que procurava para o seu
itinerário, na compreensão tolerante do próximo, nos valores da
solidariedade e da cidadania, na firmeza com que defendia os princípios que
para ela valiam na vida pessoal e na sociedade.
Fazia isso com a enorme naturalidade de ser uma mulher bem do seu tempo,
culta e desempoeirada, aberta à modernidade e, sempre que necessário,
questionadora da modernidade, de convicções solidamente assentes e
pensamento estruturado, de desassombro nas atitudes e coragem sem limites na
assunção de responsabilidades, e também com um trajecto de experiências
acumuladas de que soube utilizar as mais duras e amargas para a inimitável
têmpera da sua personalidade.
Tenho alguma dificuldade em exprimir estas coisas, mas creio que ela soube
forjar uma matriz de confiança nessa via anímica e espiritual que, para os
eleitos, os happy few, é em si mesma um caminho de esperança e uma proposta
de comunhão e partilha, em que o eterno e o temporal se articulam de modo
indissociável, seja qual for o lugar de exílio em que o ser humano se sinta
a existir.
Por isso, ao dizer "o Senhor é meu pastor, nada me faltará", nas suas
palavras finais, ela citou textualmente o mesmo salmo 23 de que já tinha
deixado entrever um dos versículos quando disse que, "graças a Deus", nunca
tivera medo: "Mesmo que atravesse os vales sombrios, nenhum mal temerei,
porque estás comigo."
Esta densa memória que vamos guardar de Maria José Nogueira Pinto é a sua
prova de vida.****

NADA ME FALTARÀ.-- Ultimo artigo ao DN

Acho que descobri a política - como amor da cidade e do seu bem - em casa.
Nasci numa família com convicções políticas, com sentido do amor e do serviço de Deus e da Pátria. O meu Avô, Eduardo Pinto da Cunha, adolescente, foi combatente monárquico e depois emigrado, com a família, por causa disso. O meu Pai, Luís, era um patriota que adorava a África portuguesa e aí passava as férias a visitar os filiados do LAG. A minha Mãe, Maria José, lia-nos a mim e às minhas irmãs a Mensagem de Pessoa, quando eu tinha sete anos. A minha Tia e madrinha, a Tia Mimi, quando a guerra de África começou, ofereceu-se para acompanhar pelos sítios mais recônditos de Angola, em teco-tecos, os jornalistas estrangeiros. Aprendi, desde cedo, o dever de não ignorar o que via, ouvia e lia.
Aos dezassete anos, no primeiro ano da Faculdade, furei uma greve associativa. Fi-lo mais por rebeldia contra uma ordem imposta arbitrariamente (mesmo que alternativa) que por qualquer outra coisa. Foi por isso que conheci o Jaime e mudámos as nossas vidas, ficando sempre juntos. Fizemos desde então uma família, com os nossos filhos - o Eduardo, a Catarina, a Teresinha - e com os filhos deles. Há quase quarenta anos.
Procurei, procurámos, sempre viver de acordo com os princípios que tinham a ver com valores ditos tradicionais - Deus e a Pátria -, mas também com a justiça e com a solidariedade em que sempre acreditei e acredito. Tenho tentado deles dar testemunho na vida política e no serviço público. Sem transigências, sem abdicações, sem meter no bolso ideias e convicções.
Convicções que partem de uma fé profunda no amor de Cristo, que sempre nos diz - como repetiu João Paulo II - "não tenhais medo". Graças a Deus nunca tive medo. Nem das fugas, nem dos exílios, nem da perseguição, nem da incerteza. Nem da vida, nem na morte. Suportei as rodas baixas da fortuna, partilhei a humilhação da diáspora dos portugueses de África, conheci o exílio no Brasil e em Espanha. Aprendi a levar a pátria na sola dos sapatos.
Como no salmo, o Senhor foi sempre o meu pastor e por isso nada me faltou -mesmo quando faltava tudo.
Regressada a Portugal, concluí o meu curso e iniciei uma actividade profissional em que procurei sempre servir o Estado e a comunidade com lealdade e com coerência.
Gostei de trabalhar no serviço público, quer em funções de aconselhamento ou assessoria quer como responsável de grandes organizações. Procurei fazer o melhor pelas instituições e pelos que nelas trabalhavam, cuidando dos que por elas eram assistidos. Nunca critérios do sectarismo político moveram ou influenciaram os meus juízos na escolha de colaboradores ou na sua avaliação.
Combatendo ideias e políticas que considerei erradas ou nocivas para o bem comum, sempre respeitei, como pessoas, os seus defensores por convicção, os meus adversários.
A política activa, partidária, também foi importante para mim. Vivi--a com racionalidade, mas também com emoção e até com paixão. Tentei subordiná-la a valores e crenças superiores. E seguir regras éticas também nos meios. Fui deputada, líder parlamentar e vereadora por Lisboa pelo CDS-PP, e depois eleita por duas vezes deputada independente nas listas do PSD.
Também aqui servi o melhor que soube e pude. Bati- -me por causas cívicas, umas vitoriosas, outras derrotadas, desde a defesa da unidade do país contra regionalismos centrífugos, até à defesa da vida e dos mais fracos entre os fracos. Foi em nome deles e das causas em que acredito que, além do combate político directo na representação popular, intervim com regularidade na televisão, rádio, jornais, como aqui no DN.
Nas fraquezas e limites da condição humana, tentei travar esse bom combate de que fala o apóstolo Paulo. E guardei a Fé.
Tem sido bom viver estes tempos felizes e difíceis, porque uma vida boa não é uma boa vida. Estou agora num combate mais pessoal, contra um inimigo subtil, silencioso, traiçoeiro. Neste combate conto com a ciência dos homens e com a graça de Deus, Pai de nós todos, para não ter medo. E também com a família e com os amigos. Esperando o pior, mas confiando no melhor.
Seja qual for o desfecho, como o Senhor é meu pastor, nada me faltará.

por MARIA JOSÉ NOGUEIRA PINTO

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Pote rachado

Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada no seu pescoço.
Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe. O pote rachado chegava apenas pela metade.
Foi assim por dois anos, diariamente. O carregador entregando um pote e meio de água na casa do seu chefe. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso das suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado da sua imperfeição, e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que ele havia sido designado a fazer. Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem um dia à beira do poço:
- Estou envergonhado, e quero pedir-lhe desculpas.
- Por quê ? Perguntou o homem. De que está envergonhado ?
- Nesses dois anos eu fui capaz de entregar apenas a metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa do seu senhor. Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote.
O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão falou:
- Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.
De fato, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu certo ânimo.
Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu desculpas ao homem pela sua falha. Disse o homem ao pote:
- Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado ? Eu, ao conhecer o seu defeito, tirei vantagem dele. Lancei sementes de flores no seu lado do caminho, e cada dia enquanto voltávamos do poço, você as regava. Por dois anos eu pude colher estas lindas flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Se você não fosse do jeito que você é, ele não poderia ter esta beleza para dar graça à sua casa. Cada um de nós temos nossos próprios e únicos defeitos. Todos nós somos potes rachados. Porém, se permitirmos, o Senhor vai usar estes nossos defeitos para embelezar a mesa de seu Pai. Na grandiosa economia de Deus, nada se perde. Nunca deveríamos ter medo dos nossos defeitos. Se os conhecermos, eles poderão causar beleza.
"Das nossas fraquezas, podemos tirar forças."

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A lenda da roda.

Qualquer coisa pequena pode encerrar uma grande mensagem, como esta roda.
Certa roda de madeira de uma carroça, numa pancada forte numa calçada, perdeu um pedaço em forma de cunha. Ficou triste e passou a sentir-se infeliz, desejando voltar a ser uma roda completa.
Começou a procurar pelos caminhos o pedaço que perdera. Como não podia rolar depressa, ia admirando a verdura dos campos e as flores variadas e belas.
Encontrou vários pedaços de madeira, mas nenhum encaixava na falha que tinha. Deixava-os na berma e continuava a sua busca.
Certo dia, encontrou o pedaço que lhe faltava. Recolocou-o no seu lugar e ficou imensamente feliz. Era novamente uma roda completa. Começou a rolar pelas estradas e calçadas. Deslizava com facilidade e até com muita velocidade. Mas verificou com tristeza que já não podia apreciar a beleza das flores, nem o seu perfume, nem outras coisas belas da natureza.
Quando sentiu que o mundo lhe era muito diferente, parou e deixou o pedaço de madeira que tinha incorporado no seu lugar e prosseguiu o seu caminho devagar e saboreando as maravilhas do mundo.
Talvez se possa aprender que somos mais felizes quando nos falta alguma coisa. A pessoa que tem tudo – criança, jovem ou adulto - é de certa forma uma pessoa carente. Mesmo muito rica, sofre de algumas carências.
Nunca saberá o que é a ânsia de alguma coisa, ter esperança de algo, sonhar com alguma coisa que se não tem.
Quando perdemos algo importante para nós ou alguém que fazia parte de nós, o nosso caminho é mais reflexivo, é mais consciente, mais atento às nossas limitações e fragilidades.
A dor faz-nos caminhar mais lentamente. Faz-nos até parar, permitindo-nos apreciar e ponderar melhor o valor das coisas e das pessoas.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Belos momentos...em Antalya





AS paisagens maravilhosas. Antalya à beira do Mar Mediterrâneo e do Mar Egeu pode ser comparada à das Rivieras Francesa e Italiana (porém por menos da metade do preço). Diversos pitorescos vilarejos merecem visita. Um sitio a repetir....O Hotel Voyage é mesmo 5 estrelas...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Encerramento do mês de Maria nos locais de viver.

Nossa Senhora apareceu no monte aos pastorinhos.
Como outrora, Nossa Senhora foi ao encontro das pessoas nos seus locais de viver.
Tantas pessoas a demonstrar a sua fé.
Tantas pessoas sensibilizadas pela sua presença.
Tantas pessoas empenhadas para que Nossa Senhora tivesse um lugar digno de destaque onde pudesse ser adorada.
Tantas pessoas com sede de saborear a Oração.
Tantas pessoas que sem esta iniciativa se viam impossibilitadas de demostrar a sua fé.
Pessoas idosas, pessoas que não se podem deslocar, pessoas que não tem como rezar em comunidade.
Pessoas que não sabem o que é rezar.
Estas pessoas demonstraram que sabem receber a MÃE, que querem rezar e cantar-lhes Louvores.
São um misto de emoções dificeis de descrever.
Neste ultimo dia, a chuva resolveu brindar-nos, foi debaixo de chuva intensa que acabamos com procissão pela rua, pessoas encharcadas da cabeça aos pés e nunca nunca arredaram pé, continuaram a adorar a Senhora mesmo depois de concluido a recitação do terço.
Com Maria nada é impossivel.










domingo, 29 de maio de 2011

Recitação do terço nos locais de viver





O valor de uma dona de casa

Um homem chegou a casa, após o trabalho, e encontrou os seus três filhos a brincar do lado de fora, ainda em pijama.

Estavam sujos de terra, cercados por embalagens vazias de comida entregue em casa.

A porta do carro da sua esposa estava aberta.
A porta da frente da casa também.

O cachorro estava desaparecido, não veio recebê-lo.

Enquanto ele entrava em casa, achava mais e mais bagunça.

A lâmpada da sala estava queimada, o tapete estava enrolado e encostado na parede.

Na sala de estar, a televisão ligada aos berros num desenho animado qualquer, e o chão estava atulhado de brinquedos e roupas espalhadas.

Na cozinha, a pia estava transbordando de pratos; ainda havia café da manhã na mesa, o frigorifico estava aberto, tinha comida do cão no chão e até um copo quebrado em cima do balcão.

Sem contar que tinha um montinho de areia perto da porta.

Assustado, ele subiu correndo as escadas, desviando-se dos brinquedos espalhados e de peças de roupa suja.

'Será que a minha mulher passou mal?' pensou:

'Será que alguma coisa grave aconteceu?'

Então ele viu um fio de água correndo pelo chão, vindo da casa de banho.

Lá ele encontrou mais brinquedos no chão, toalhas ensopadas, sabonete líquido espalhado por toda parte e muito papel higiênico na pia.

A pasta de dentes tinha sido usada e deixada aberta e a banheira transbordando água e espuma.

Finalmente, ao entrar no quarto de casal, ele encontrou a sua mulher ainda de pijama, na cama, deitada e lendo uma revista.

Ele olhou para ela completamente confuso, e perguntou: Que diabos aconteceu aqui em casa?

Por que toda essa bagunça?

Ela sorriu e disse:

- Todos os dias, quando chegas do trabalho, perguntas:

'- Afinal de contas, o que fizeste o dia inteiro dentro de casa?'
-'Bem... Hoje eu não fiz nada, FOFO !!!!

O meu nome é MULHER!


No princípio eu era a Eva
Criada para a felicidade de Adão
Mais tarde fui Maria
Dando à luz aquele
Que traria a salvação
Mas isso não bastaria
Para eu encontrar perdão.
Passei a ser Amélia
A mulher de verdade
Para a sociedade
Não tinha a menor vaidade
Mas sonhava com a igualdade.
Muito tempo depois decidi:
Não dá mais!
Quero a minha dignidade
Tenho meus ideais!
Hoje não sou só esposa ou filha
Sou pai, mãe, arrimo de família
Sou camioneira, taxista,
Piloto de avião, policial feminina,
Operária de construção...
Ao mundo peço licença
Para atuar onde quiser
Meu sobrenome é COMPETÊNCIA
E meu nome é MULHER..!!!!


(O Autor é Desconhecido,
mas um verdadeiro sábio...)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Todos passamos a vida a desejar a vida que não temos.

"A Vida Normal", Um texto que vale a pena ler e reflectir...
"Todos passamos a vida a desejar a vida que não temos. Queixamo-nos do emprego, dos colegas que são chatos, do chefe que não nos dá valor, do muito que trabalhamos e do ordenado que é fraco. Reclamamos do tempo, que chove e não se pode ir à praia, que não chove e faz mal à agricultura, do sol que é pouco ou demasiado, do suor, do frio e do vento, do calor que nunca mais se vai embora e do Verão que nunca mais chega. A família cansa-nos, mas odiamos quando esta nos ignora; dizemos mal dos amigos sem os quais não sabemos passar; suspiramos pelo fim do serão em que as visitas se vão embora, mas despedimo-nos combinando um novo jantar. Estamos fartos dos filhos, mas passamos o tempo a falar deles e a mostrar as suas fotografias aos amigos. O barulho que fazem enlouquece-nos, mas o silêncio da sua ausência é insuportável. Queixamo-nos do marido ou da mulher, que não são como dantes, que nos irritam, que não nos surpreendem, mas suspiramos quando nos faltam e reclamamos quando fazem alguma coisa com a qual não contávamos. Estamos no Algarve a suspirar pela frescura do Minho, no Minho damos por nós desejosos da brisa costeira, na cidade irrita-nos o artificialismo e em Trás-os-Montes formigamos com a ânsia de fugir à ruralidade. E do país, todos nos queixamos do país até ao momento em que "lá fora" concluímos com um orgulho disfarçado que realmente "comer, comer bem, só mesmo em Portugal". De queixume em queixume, passamos pela vida muitas vezes sem deixar verdadeiramente que a vida nos atravesse. E só quando somos roubados ao quotidiano que tantos maldissemos damos conta do tempo que perdemos nos lamentos sobre o tempo que os outros nos fazem perder. Há pouco mais de um mês, numa consulta que era suposto ser de rotina, foi-me diagnosticado um tumor. Felizmente benigno, como soube após 24 horas de espera. E, tal como seria de prever, naquele momento inicial em que o espectro de algo mais grave ainda não tinha sido afastado, o meu pensamento imediato foi: "Mas afinal porque é que eu estou aqui, afundada em Braga a trabalhar, em vez de ter já há muito tempo fugido para Bora-Bora?" Passado contudo tal instante, e nas 23 horas que se seguiram, foi da vida normal que tive saudades antecipadas. A vida normal: trabalhar, ir ao cinema, abraçar quem amo, rir-me das pequenas parvoíces do quotidiano, ver a minha filha a dormir e sentir o seu cheiro. A vida normal está aqui mesmo ao lado. E aposto que Bora-Bora tem imensos mosquitos."

O texto do jornal Público foi escrito em Agosto de 2006 pela Prof. Dra. Carla Machado, da Universidade do Minho. Com o decorrer do tempo o tumor que ela refere no texto veio infelizmente a revelar-se maligno e, após uma luta de
quase 5 anos, a Prof. Carla faleceu (Fevereiro 2011)
Hoje recordaram-me esta sua crónica. Permitam-me difunda mais uma vez este seu texto.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Basel- Suiça

Visitar Basel em família.
Como somos uma familia que gostamos de viajar e conhecer outras paisagens, os nossos filhos decidiram que as prendas de Natal e Dia do Pai (dois em um) seriam uma pequena viagem em famila a Basel na Suiça.
Lá fomos nós na data marcada, disfrutar das prendas recebidas:)
É uma cidade muito bonita, cheia de edifícios que merecem destaque.
Destaco o edifício dos correios (PTT) ,da Câmara Municipal não podendo esquecer a Cathedral.
Também encontramos fontes muito bonitas. Uma tinha um dragão,( E Viva o PORTO) é um dos símbolos da cidade de Basel. Aliás, os dragões estão presentes em muitos dos edifícios, mas destaco um que encontrei numa das pontes sobre o Reno.
Basileia é uma cidade muito civilizada e cultural, em cada recanto ouve-se música ao vivo.
Em nenhum museu se paga para entrar.
Não posso esquecer a paisagem vista do rio Rhein.
A viagem há montanha. Do teleférico apreciamos a paisagem linda da montanha,ainda com uns restos de neve.
As pessoas aproveitam o Domingo para irem com as crianças brincar para a montanha, só por ai vemos, a diferença de mentalidades e civilização…
Vemos bancas a vender vários tipos de produtos desde maçãs, ovos etc. ninguém na banca, uma caixa para as pessoas porem o dinheiro depois de se servirem…Em Portugal!!! Nem a banca sobrava
O Pior... entender as pessoas!!!!Falasse cantão Alemão.
Adorei esta pequena viagem a Basel.
Venham outras como esta...

terça-feira, 29 de março de 2011

Em Basel-Uma luz pelo Japão

O Pote Rachado

Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada no seu pescoço.
Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe. O pote rachado chegava apenas pela metade.
Foi assim por dois anos, diariamente. O carregador entregando um pote e meio de água na casa do seu chefe. Claro, o pote perfeito estava orgulhoso das suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado da sua imperfeição, e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que ele havia sido designado a fazer. Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote falou para o homem um dia à beira do poço:
- Estou envergonhado, e quero pedir-lhe desculpas.
- Por quê ? Perguntou o homem. De que está envergonhado ?
- Nesses dois anos eu fui capaz de entregar apenas a metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa do seu senhor. Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e não ganha o salário completo dos seus esforços, disse o pote.
O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão falou:
- Quando retornarmos para a casa do meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.
De fato, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou flores selvagens ao lado do caminho, e isto lhe deu certo ânimo.
Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu desculpas ao homem pela sua falha. Disse o homem ao pote:
- Você notou que pelo caminho só havia flores no seu lado ? Eu, ao conhecer o seu defeito, tirei vantagem dele. Lancei sementes de flores no seu lado do caminho, e cada dia enquanto voltávamos do poço, você as regava. Por dois anos eu pude colher estas lindas flores para ornamentar a mesa do meu senhor. Se você não fosse do jeito que você é, ele não poderia ter esta beleza para dar graça à sua casa. Cada um de nós temos nossos próprios e únicos defeitos. Todos nós somos potes rachados. Porém, se permitirmos, o Senhor vai usar estes nossos defeitos para embelezar a mesa de seu Pai. Na grandiosa economia de Deus, nada se perde. Nunca deveríamos ter medo dos nossos defeitos. Se os conhecermos, eles poderão causar beleza.
"Das nossas fraquezas, podemos tirar forças."

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um texto inteligente que ajuda a actualizar o nosso português.

Um cê a mais

Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retiraautomaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que,aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que,ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-medaquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio.Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês meacompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, porvezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueçasde mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz,sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nemparecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um diapara o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nosespetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, aosegundo ato, eu ato os meus sapatos. Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavrasarrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenese entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errartenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há umdivórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não seentendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram aser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade,não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tãoimportantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, massem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimoque já não tenham. As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vouter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudovai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção,nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdadeseja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê aatrapalhar.

-Manuel Halpern

*José Régio-Soneto quase inédito e muito actual...*

*Soneto quase inédito*

*Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.*
*Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,*
*Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

** ** * *JOSÉ RÉGIO* Soneto escrito em 1969.
*Tão actual em 1969, como hoje...*
*E depois ainda dizem que a tradição já não é o que era!!!*

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

É bom para a gripe

( Os homens quando estão com gripe, é uma chatice para os aturar!:)))
Pachos na testa
Terço na mão
Uma botija
Chá de limão
Zaragotoas
Vinho com mel
3 aspirinas
Creme na pele
Dói-me a garganta
Chamo a mulher
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer
Mede-me a febre
Olha-me a goela
Cala os miúdos
Fecha a janela
Não quero canja
Nem a salada
Ai Lurdes, Lurdes
Não vales nada
Se tu sonhasses
Como me sinto
Já vejo a morte
Nunca te minto
Já vejo o inferno
Chamas diabos
Anjos estranhos
Cornos e rabos
Vejo os demónios
Nas suas danças
Tigres sem litras
Bodes de tranças
Choros de coruja
Risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes
Que foi aquilo
Não é chuva
No meu postigo
Ai Lurdes, Lurdes
Fica comigo
Não é o vento
A cirandar
Nem são as vozes
Que vêm do mar
Não é o pingo
De uma torneira
Põe-me a santinha
À cabeceira
Compõe-me a colcha
Fala ao prior
Pousa o Jesus
No cobertor
Chama o doutor
Passa a chamada
Ai Lurdes, Lurdes
Nem dás por nada
Faz-me tisanas
E pão de ló
Não te levantes
Que fico só
Aqui sozinho
A apodrecer
Ai Lurdes, Lurdes
Que vou morrer
-A. Lobo Antunes-